domingo, 20 de dezembro de 2009

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

"Pouca saúde, muita saúva, os males do Brasil são." Macunaíma achava que os males eram as saúvas. Especialistas dizem que a saúva tem sentido conotativo, representando nossa ancestral propensão à preguiça, à frouxidão moral, ao desvirtuamento. Sabe-se que somos uma união de naúfragos, traficantes e degredados com índios e escravos. Um misto de mau-caratér e malemolência. Atrativo ao crime e à impunidade. Os primeiros europeus que chegaram eram criminosos e assim formaram-se as gerações, com a mesma retidão deles. Junte-se a preguiça, a pouca vontade de mudar as coisas, por pior que elas estejam, e temos um retrato fiel de nossa atual situação.

A pior moléstia que grassa o país, cada cidade e cada homem, atende por impunidade. Nosso Brasil, se não é campeão mundial da corrupção, é absolutamente o campeão mundial da impunidade. Soa até tacanho falar de todas situações vividas por nós, brasileiros comuns, que pendem para o lado obscuro mesmo que isso pareça trivial. Temos o gato da TV a cabo, da conta de luz. O estacionamento em fila dupla e na calçada. O atraso e a desculpa. O troco errado que vai para o bolso. A regra que vale só para os outros. O problema maior é o povo e sua formação. O orgulho que a maioria tem do "jeitinho". E o pior é que o povo está sempre por baixo, mas acham que estão por cima. Quem dera um retrato suiço/sueco nos fizesse refletir sobre o respeito às regras.

Demonstro empiricamente como a impunidade acaba com uma cidade como acabou com Florianópolis. Não é apenas impunidade dos políticos, mas de todas autoridades que deveriam agir e não agem. Deixam o povo fazer o que quer.

A ordem cronológica não é respeitada, e sim a de percepção. Primeiro foram os mendigos, bêbados e homens de rua. Quando em 2001 poucos haviam aqui, com o tempo foram se alastrando. Sempre com uma bebida na mão e prontos a pedir qualquer esmola, tomaram conta das calçadas, das ruas, dos parques e até em boa parte do campus da universidade. Nenhuma medida foi tomada. Depois os sul-americanos, em sua maioria bolivianos, que não possuem visto e ficam largados pelas ruas e calçadas a mendigar. Não trabalham em restaurantes, em postos de gasolina, em faxina, em mecânica, em nada. A profissão é mendigar. Mais uma vez, a despeito da ausência de visto, da flagrante transgressão, a polícia federal fechou os olhos. Em seguida as drogas. Antes coisa de bicho grilo, de surfista, menos ofensiva, é hoje coisa de gangues, tráfico organizado e toma conta da maioria dos morros da cidade com crack e cocaína. Campanhas são feitas. Resultados são pífios. Agora a impunidade imobiliária e turística. Concedem-se alvarás a torto e a direito para construção de empreendimentos em qualquer praia, em qualquer reserva, em qualquer lugar. Vale mais a valorização imobiliária, os impostos, e claro, a propina. E parte-se da idéia sublime: quanto mais turistas melhor, independentemente da capacidade que uma ilha comporta. Mais gente, mais dinheiro, mais lixo, mais esgoto, mais praia suja, mais trânsito, mais poluição. Menos qualidade de vida. E com o beneplácito das autoridades.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Deixando um pouco de lado o que é fajuto

Esse é um texto de César Benjamin, fundador do PT e dirigente do partido até 1995. O texto foi retirado do site almacarioca. Indicado pelo Cesar, mas o Casulari.
Notem a diferença, o desenvolvimento da argumentação do Benjamin com meu precário texto. A diferença de um sábio para um sábio fajuto.

O mito do paraíso perdido

César Benjamin


Com o descalabro do governo Lula, multiplicam-se as pessoas que relembram, saudosas, o velho PT e pregam um retorno ao partido que supostamente existia antes de chegar ao poder. Mais uma vez reaparece a idéia, tão recorrente, de que houve um estado original, mais ou menos puro, que deve ser recuperado. Em outros contextos, quem ainda não ouviu histórias sobre a existência de um homem original, uma sociedade original, uma língua original? Procura-se agora um partido original. São conceitos que pertencem ao universo do pensamento mítico. Na vida real, não há começos absolutos, descontaminados de decadências posteriores. Não há pontos de partida e de chegada. Há processos. Os trabalhos etnológicos de Bronislaw Malinowski [antropólogo inglês nascido na Polônia, 1884-1942] foram decisivos para estabelecer isso.

O caso do PT, por ser tão recente, é ainda mais claro. Os malfeitos que têm vindo à luz não começaram agora nem decorrem de um equívoco individual. Representam apenas a transferência, para a esfera do governo federal, de práticas iniciadas, com certeza, nos primeiros anos da década de 1990, talvez antes, e nunca descontinuadas. As impressões digitais do mesmo grupo aparecem na gestão do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), na organização das finanças da campanha presidencial de 1994, na gestão de algumas prefeituras, como a de Santo André, na busca de controle de fundos de pensão, para citar apenas as situações mais notórias.

Sobre tudo isso, há anos, correm histórias escabrosas, pois um esquema tão amplo e longevo nunca permanece completamente invisível. Ao aceitar conviver com isso, ao mesmo tempo mantendo a bandeira da ética para consumo externo, o PT ficou exposto à ação corrosiva da hipocrisia, que o destruiu.

Lula sempre compartilhou da intimidade do grupo e foi o principal beneficiário de suas ações. Garante, porém, que nada sabia. Respeito quem acredita nisso, assim como respeito quem acredita em duendes. Seja como for, pelo número de conexões já descobertas e de instituições envolvidas, estatais e privadas, parece claro que estava em curso, em seu governo, a montagem de uma rede de corrupção poucas vezes igualada.

Uma rede sistêmica, planejada, coletivamente organizada. Dos Correios à Petrobrás, das empreiteiras com créditos a receber às verbas de publicidade, do Banco do Brasil aos fundos de pensão, nada estava, em princípio, fora de seu raio de ação. Um esquema desse tipo sempre precisa de forte apoio em altos escalões de governo, que ordenam os pagamentos e fazem as nomeações. Sílvio Pereira, Delúbio Soares, Waldomiro Diniz e outros "operadores" nunca tiveram cargos que lhes permitissem agir sozinhos de forma eficaz.

Novos passos estavam por vir. Depois da reforma sindical, já anunciada, o grupo poderia dar o grande salto, com a transformação das centrais sindicais em entidades muito mais centralizadoras, financeiramente poderosas, aptas a gerenciar bancos, planos de saúde privados e fundos de pensão. O grupo deixaria para trás a fase de "acumulação primitiva", baseada no crime, e se estabeleceria dentro da lei, por meio, principalmente, do sindicalismo de negócios. O trânsito em direção a uma atividade empresarial regular, muito rentável, é o sonho de toda máfia. O predomínio desse projeto ajuda a explicar por que foi abandonada tão fácil e completamente qualquer veleidade de fazer um governo republicano e transformador. Os objetivos, há muito tempo, eram outros.

Estamos diante de um fenômeno novo em nossa história. Ele tem várias dimensões. Uma delas é a introdução, na esquerda brasileira, em larga escala, daquilo que Marx chamava, em outro contexto, o "poder dissolvente do dinheiro". As sociedades antigas, baseadas na tradição, na hierarquia e na religião, desconfiavam de banqueiros e de grandes comerciantes e não raro os reprimiam, porque percebiam que o fortalecimento da esfera do dinheiro desagregaria tudo o mais. Foi o que finalmente aconteceu no mundo moderno, para o bem e para o mal, com a completa mercantilização da vida social. Processo semelhante ocorreu na esquerda brasileira nos 15 últimos anos.

A hegemonia obtida pela Articulação, no PT e na CUT, não pode ser desassociada do uso sistemático dessa nova e poderosa arma, até então desconhecida entre nós, a arma do dinheiro. Ela acabou destruindo sonhos coletivos. Tornou desnecessária a batalha de idéias. Transformou a militância em um estorvo, diante da docilidade dos cabos eleitorais remunerados. E terminou por engolir os seus próprios executores. Seus projetos de origem, que continham alguma política, também foram dissolvidos pelo mesmo poder.

A rede de cumplicidades que o grupo reuniu em torno de si, com variados graus de engajamento e responsabilidade, contamina tão profundamente o PT que uma reforma séria do partido tornou-se inviável. Cumpriu-se minha profecia, feita da tribuna, cara a cara com os 600 delegados no encontro nacional de 1995, o último do qual participei: ao aceitarmos financiamentos de bancos e empreiteiras, feitos à revelia das instâncias partidárias, estávamos diante do ovo da serpente que iria nos engolir.

Dessa responsabilidade histórica, muitíssimo grave, Lula não escapará. Sua liderança corroeu, por dentro, parte expressiva da esquerda. Não deixará nenhum legado político, teórico ou moral.

Lula optou pela esquizofrenia: corta todas as verbas dos ministérios, para fazer o alucinado superávit exigido pelo capital financeiro, e anuncia que nenhum governo realiza tanto quanto o seu; demite Olívio Dutra para nomear um protegido de Severino Cavalcanti e diz horas depois que a elite jamais conseguirá pressioná-lo; seu filho recebe R$ 5 milhões de uma concessionária de serviços públicos, ele nomeia um advogado da mesma empresa desembargador do tribunal onde ela enfrenta suas maiores causas e isso não o impede de anunciar-se como o mais ético dos brasileiros; depois de dois anos e meio na chefia do governo, continua a atribuir as dificuldades a uma herança maldita que ele só fez agravar. Abdicou de uma coerência mínima entre o que faz e o que diz.

Aposta na desinformação do povo e numa identificação pré-política, irracional, com ele, porque um dia, há muito tempo, foi pobre. Está se tornando um "espetáculo excessivo", para usar a expressão de Roland Barthes, referindo-se às lutas de catch. Ao contrário do que normalmente se diz, seu governo é mais conservador na política que na economia. Lula foi a esperança fraudulenta a que Ernst Bloch se referia.

Há mais de dez anos o PT está morrendo, mas esse processo não podia completar-se antes de o "Lula-lá" se realizar. A agonia se prolongou e o partido apodreceu. Tornou-se uma experiência efêmera, e fundamentalmente equivocada, na vida brasileira. Pretendendo ser o novo absoluto, rompeu a memória das lutas populares. Recusou a teoria. Fechou os olhos para a diversidade do Brasil. Afrouxou os princípios, exacerbou a arrogância. Aceitou a disseminação de um enorme conjunto de antivalores, formando a mais desqualificada geração de quadros e líderes de toda a nossa história.

Perdoem-me os inúmeros petistas honestos, mas não é hora de meias palavras. A imensa maioria deles foi cúmplice da desventura, pelo menos por omissão.

Felizmente, o ciclo do PT está prestes a se encerrar. O partido continuará a existir como mais uma legenda pragmática, destituída de utopia, na qual se disputam eleições e se constroem carreiras. Só isso. Por mais dolorosa que seja a crise, ela permite antever o fim do pesadelo de uma esquerda sem fibra, honra e caráter, incapaz de apresentar à sociedade brasileira um projeto histórico transformador.

Muitos temem que a direita se fortaleça. Estão certos, mas só no curto prazo. Paradoxalmente, a crise do governo Lula poderá vir a ser a crise do neoliberalismo no Brasil, propiciando, finalmente, o aparecimento de uma proposta real de mudanças, cujo contorno continua obscuro.

Não creio, porém, que a sociedade aceite passivamente o retorno dos velhos esquemas, já conhecidos, que afundaram o país no atoleiro. Ela demandará um projeto novo. Nossa grandeza será medida pela capacidade que tivermos para construí-lo. De esquerda, de preferência. Com a esquerda, se possível. Sem a esquerda, se necessário, pois a crise brasileira é grave demais. Há muito sofrimento humano em jogo. No que me diz respeito, o compromisso com o povo e a nação está acima das seitas.

Nossa consigna deve ser, agora, o "motto" do último movimento do opus 35 de Beethoven: "Muss es sein? Es muss sein!" - Deve ser? Deve ser!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Novas pesquisas atestam o velho: a popularidade de Lula é altíssima. Tem a ver com o cidadão comum ser pouco instruído? Ou seria resultado das práticas populistas do presidente? Ambos.

1. As pessoas, de modo geral, não conseguem separar "o que é" do "que poderia ser". Explico: os brasileiros, a despeito da famigerada cordialidade, não pensam no coletivo, olham somente para o próprio umbigo. Se antes o salário mínimo era R$ 200,00 e hoje é R$ 400,00 então o presidente faz um bom governo. Mas o que o povo não pensa é que talvez pudesse estar ainda maior. Ou, que se ele conseguiu um emprego e a corrupção toma conta do alto escalão federal, isso tanto faz; mas não visualiza que o correto seria o emprego concomitantemente com a moralidade. Então fecham os olhos às estripulias do governo pensando somente no emprego público ou no bolsa-família.

2. Com toda essa popularidade o presidente poderia ter sido o maior estadista da história do país. Pena que se deixou contaminar, e o tempo fará dele apenas um 2º Pai dos Pobres. Como disse recentemente o Simon: o PT não chegou contaminado no governo, mas foi contaminado por este. Imagine se o Lula tivesse sido rigoroso com os casos de corrupção e ao invés de passar a mão na cabeça dos culpados tivesse os relegado.

3. Agora, mesmo depois de ter enfrentado ferro e fogo pelo PMDB, o presidente vê a besteira que fez. O partido lançou o Requião para presidente e não fará chapa com a Dilma. Morrerão abraçados.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Por alguns segundos cheguei até a ficar animado: será que é verdade? Seria incrível.
A manchete estava assim, bem posta - "Cristo Redentor finalmente é tombado".
Imaginei uma das sete maravilhas modernas despencando e o olhar incrédulo dos cariocas. O 2016 sem os braços abertos para recepcionar os atletas e turistas. Imaginei um mundo melhor, como John Lennon. "Imagine there's no heaven..." "And no religion too..."
Durou pouco, porque no final das contas, o tombamento era cultural. Ou seja, o Cristo ainda está de pé.

Tombamento