sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

"Pouca saúde, muita saúva, os males do Brasil são." Macunaíma achava que os males eram as saúvas. Especialistas dizem que a saúva tem sentido conotativo, representando nossa ancestral propensão à preguiça, à frouxidão moral, ao desvirtuamento. Sabe-se que somos uma união de naúfragos, traficantes e degredados com índios e escravos. Um misto de mau-caratér e malemolência. Atrativo ao crime e à impunidade. Os primeiros europeus que chegaram eram criminosos e assim formaram-se as gerações, com a mesma retidão deles. Junte-se a preguiça, a pouca vontade de mudar as coisas, por pior que elas estejam, e temos um retrato fiel de nossa atual situação.

A pior moléstia que grassa o país, cada cidade e cada homem, atende por impunidade. Nosso Brasil, se não é campeão mundial da corrupção, é absolutamente o campeão mundial da impunidade. Soa até tacanho falar de todas situações vividas por nós, brasileiros comuns, que pendem para o lado obscuro mesmo que isso pareça trivial. Temos o gato da TV a cabo, da conta de luz. O estacionamento em fila dupla e na calçada. O atraso e a desculpa. O troco errado que vai para o bolso. A regra que vale só para os outros. O problema maior é o povo e sua formação. O orgulho que a maioria tem do "jeitinho". E o pior é que o povo está sempre por baixo, mas acham que estão por cima. Quem dera um retrato suiço/sueco nos fizesse refletir sobre o respeito às regras.

Demonstro empiricamente como a impunidade acaba com uma cidade como acabou com Florianópolis. Não é apenas impunidade dos políticos, mas de todas autoridades que deveriam agir e não agem. Deixam o povo fazer o que quer.

A ordem cronológica não é respeitada, e sim a de percepção. Primeiro foram os mendigos, bêbados e homens de rua. Quando em 2001 poucos haviam aqui, com o tempo foram se alastrando. Sempre com uma bebida na mão e prontos a pedir qualquer esmola, tomaram conta das calçadas, das ruas, dos parques e até em boa parte do campus da universidade. Nenhuma medida foi tomada. Depois os sul-americanos, em sua maioria bolivianos, que não possuem visto e ficam largados pelas ruas e calçadas a mendigar. Não trabalham em restaurantes, em postos de gasolina, em faxina, em mecânica, em nada. A profissão é mendigar. Mais uma vez, a despeito da ausência de visto, da flagrante transgressão, a polícia federal fechou os olhos. Em seguida as drogas. Antes coisa de bicho grilo, de surfista, menos ofensiva, é hoje coisa de gangues, tráfico organizado e toma conta da maioria dos morros da cidade com crack e cocaína. Campanhas são feitas. Resultados são pífios. Agora a impunidade imobiliária e turística. Concedem-se alvarás a torto e a direito para construção de empreendimentos em qualquer praia, em qualquer reserva, em qualquer lugar. Vale mais a valorização imobiliária, os impostos, e claro, a propina. E parte-se da idéia sublime: quanto mais turistas melhor, independentemente da capacidade que uma ilha comporta. Mais gente, mais dinheiro, mais lixo, mais esgoto, mais praia suja, mais trânsito, mais poluição. Menos qualidade de vida. E com o beneplácito das autoridades.

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