quarta-feira, 17 de março de 2010

Aconteceu perto de onde eu morava.

Todo dia, lá pelas tantas das cinco da manhã, amarelando o negro da noite, surgiam os primeiros raios solares. Bem que isto não é novidade alguma, pois desde que Deus proclamou o "Fiat lux", os ditos raios já nasciam sempre à mesma hora.
Mas, perto de casa, com os raios vinham os pios, que de pios passavam a choro e de choro a latido. Piu, piu, piu. Ahn, ahn, ahn. Au au au au au auuuuuuu. Não era cão sofrido, não era cão sofrendo, não era lobisomem. Era cão-galo. Todo mundo o conhecia, uns se irritavam, outros gostavam. "Ora, que esse cão acha que é galo". Não havia viv'alma que não madrugasse com o despertador canino. Para os vagabundos, boêmios, pilantras, amantes cansados, gerentes de bordel e funcionários públicos o bicho era uma tortura. Acabavam de deitar e tome cão-galo a os incomodar. No entanto, como tudo tem seu outro lado - a cara e a coroa, o que é feio no belo, o que é belo no feio, Deus e o Diabo - os trabalhadores, estudantes, atletas, seminaristas e celetistas, madrugando, tinham no cão-galo seu relógio, por sinal, mais pontual que o tal biológico. Assim sabiam:

"Canta o cão-galo, é hora de levantar."

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